terça-feira, 21 de julho de 2009

rec_reativa 25/07/09

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sexta-feira, 17 de julho de 2009

Lançamento do Livro "Agência do Medo" de Santiago Landero,prémio "Palabra Iberica 2009"


Vivemos na sociedade do risco, segundo o sociólogo alemão Ulrich Beck.
Segundo o poeta, vivemos na sociedade do medo, na socieda­de dos espelhos transparentes. Contudo, o que é o medo? Talvez um assobio no escuro ou um luminoso reflexo condicionado, mas sempre nivelando, aprumando, elevando a nossa vida. Ou quiçá ambas as coisas, segundo nos dizem os cientistas: a cada momento o medo e a dor não fazem mais do que crescer no mundo, como diria o nosso amigo Vallejo. É o medo que mais nos ensina acerca da nossa natureza, das nossas misérias e nossas riquezas. Na modernidade temos medo de tudo: medo no trabalho, medo de perder o trabalho, medo dos empregadores, pânico do professor, medo do aluno, medo de subir aos transportes públicos, pavor e amor aos espelhos transparentes, medo à fome e à comi­da, medo de viver e medo de morrer, enfim, medo do medo. Alguns medos são encorajados a partir do poder para nos controlar. Aquele que tem medo é mais manipulável e dócil. Também se corre o risco de se tornar mais agressivo, mas nada disso importa na sociedade do risco. No entanto também há medos a coisas mais físicas. Medo do ladrão, do assassino, da bomba islamita, do vírus biológico ou informático, da violência sempre absurda, medo da policia, do mendigo, medo de violar alguma lei sem o saber. Medo da dor.
Em que consiste esse casamento entre medo e dor? Em que consistem essas Ideias que se fundem como dois rios que se enfrentam? Talvez o rosto diante do medo e da dor seja o mesmo em todos os seres humanos. Poder-se-ão fingir as convulsões, a dor ou o medo? O que nos fica na retina é essa cor difusa do ama­relo, do pássaro negro e seco por dentro. Quando o medo se casa com a dor não nos podemos reconciliar com a morte nem encon­trar-lhe um lugar. O medo mantém afastada a morte, como a dor.
Contudo também podemos dizer que a dor, de per si, é uma experiência tão próxima do prazer que às vezes nos gratifica. Talvez essa busca da dor, que ocorre tanto no erotismo como no místico, não signifique mais do que a busca transcendente, essa ânsia humana pelo imortal, esse seguir seguindo, a contramorte, até ao eterno. Num mundo vertiginoso dominado pelo efémero, reclamar o valor do amor e da morte, da expiração e do renasci­mento, é ir contra os valores (ou os vícios) de uma sociedade hedo­nista que banaliza o mal.
Talvez quando a dor nos redime, nos desnuda idênticos, vivos ou mortos, posto que por uma dor se entra na vida e por outra se sai. Pelo meio só há experiências vitais, imensas metáforas da dor, como um mar imenso. Somos humanos, somos débeis ante a dor, e logo necessitamos do consolo do abraço ou do fármaco amigo; exactamente igual ao que ao prazer concerne, quando nos exta­siamos na visão do amante, com a canção sussurrada ao ouvido, porque no amor, como na dor, não há silêncios, somente suspiros tristes ou gemidos (in)audíveis.
Apenas aqueles que sofrem, por ou com o outro, aqueles que imaginam o outro, são imunes ao fanatismo, ao medo e ao ódio. Neste livro estão descritos os medos e as dores, próprias ou alheias, não as dos mortos, não as do sangue vertido nem as da TERRA cheia de lamentos, mas da dor surda que despreza o corpo órfão de sentimento, trémulo numa formidável crise de pânico. Apesar de tudo, apesar do grito de parto que late nas letras, neste livro se descrevem dores veniais, porque como nos disse Wilde (em De Profundis] e nos confirmaram os sobreviventes do holocausto (leia-se por exemplo Celan ou Primo Levi), para as dores supremas não há palavras: "são mudas".
Jack Landes 15 Setembro de 2008



ADRENALINA



TALVEZ o medo seja um assobio no escuro, como turva é a testa do estrangeiro; porventura fantasmas fugazes que a mandrágora dispôs nos nossos olhos. Como eles, nós buscamos um fôlego que não habitam, e somente a adrenalina nos alerta desse corpo temí­vel, por desconhecido e amado; mais ainda se nele se penetra, e nele se vê a disciplina dos sóis e das luas.
Agora, mulher, descansa do cinzel que faz caretas na carne, que converte currículos em cinza, artigos e adjectivos. Lembra-te que o melhor analgésico é o esquecimento; que é ofício dos insec­tos aproveitar a miséria dos estrangeiros, o medo do colega que mantém a cadeia de emprego a qualquer preço, porque o futuro é um supermercado.
Lembra-te, quando acordares, tens que deixar que beije devagarin­ho a tua face, como fazem os insectos.


Ainda que a adrenalina possa funcionar como neurotransmissor, pelo seu papel no funcionamento do SNC é na realidade completamente banido pela acção da noradre-nalina, ou adrenérgico, termo geralmente mais usado. A potente produção de adrena lina desde a medula das glândulas supra-renais, como consequência da activação sim­pática, tem consequências generalizadas e iguais às da acção da noradrenalina liber tada pela neurónio pós-sináptico de uma via autónoma. A adrenalina segrega-se em situações de stress ou medo preparando-nos para a defesa ou para a fuga.
Agência do medo-S.Landero