sábado, 10 de outubro de 2009

terça-feira, 21 de julho de 2009

rec_reativa 25/07/09

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sexta-feira, 17 de julho de 2009

Lançamento do Livro "Agência do Medo" de Santiago Landero,prémio "Palabra Iberica 2009"


Vivemos na sociedade do risco, segundo o sociólogo alemão Ulrich Beck.
Segundo o poeta, vivemos na sociedade do medo, na socieda­de dos espelhos transparentes. Contudo, o que é o medo? Talvez um assobio no escuro ou um luminoso reflexo condicionado, mas sempre nivelando, aprumando, elevando a nossa vida. Ou quiçá ambas as coisas, segundo nos dizem os cientistas: a cada momento o medo e a dor não fazem mais do que crescer no mundo, como diria o nosso amigo Vallejo. É o medo que mais nos ensina acerca da nossa natureza, das nossas misérias e nossas riquezas. Na modernidade temos medo de tudo: medo no trabalho, medo de perder o trabalho, medo dos empregadores, pânico do professor, medo do aluno, medo de subir aos transportes públicos, pavor e amor aos espelhos transparentes, medo à fome e à comi­da, medo de viver e medo de morrer, enfim, medo do medo. Alguns medos são encorajados a partir do poder para nos controlar. Aquele que tem medo é mais manipulável e dócil. Também se corre o risco de se tornar mais agressivo, mas nada disso importa na sociedade do risco. No entanto também há medos a coisas mais físicas. Medo do ladrão, do assassino, da bomba islamita, do vírus biológico ou informático, da violência sempre absurda, medo da policia, do mendigo, medo de violar alguma lei sem o saber. Medo da dor.
Em que consiste esse casamento entre medo e dor? Em que consistem essas Ideias que se fundem como dois rios que se enfrentam? Talvez o rosto diante do medo e da dor seja o mesmo em todos os seres humanos. Poder-se-ão fingir as convulsões, a dor ou o medo? O que nos fica na retina é essa cor difusa do ama­relo, do pássaro negro e seco por dentro. Quando o medo se casa com a dor não nos podemos reconciliar com a morte nem encon­trar-lhe um lugar. O medo mantém afastada a morte, como a dor.
Contudo também podemos dizer que a dor, de per si, é uma experiência tão próxima do prazer que às vezes nos gratifica. Talvez essa busca da dor, que ocorre tanto no erotismo como no místico, não signifique mais do que a busca transcendente, essa ânsia humana pelo imortal, esse seguir seguindo, a contramorte, até ao eterno. Num mundo vertiginoso dominado pelo efémero, reclamar o valor do amor e da morte, da expiração e do renasci­mento, é ir contra os valores (ou os vícios) de uma sociedade hedo­nista que banaliza o mal.
Talvez quando a dor nos redime, nos desnuda idênticos, vivos ou mortos, posto que por uma dor se entra na vida e por outra se sai. Pelo meio só há experiências vitais, imensas metáforas da dor, como um mar imenso. Somos humanos, somos débeis ante a dor, e logo necessitamos do consolo do abraço ou do fármaco amigo; exactamente igual ao que ao prazer concerne, quando nos exta­siamos na visão do amante, com a canção sussurrada ao ouvido, porque no amor, como na dor, não há silêncios, somente suspiros tristes ou gemidos (in)audíveis.
Apenas aqueles que sofrem, por ou com o outro, aqueles que imaginam o outro, são imunes ao fanatismo, ao medo e ao ódio. Neste livro estão descritos os medos e as dores, próprias ou alheias, não as dos mortos, não as do sangue vertido nem as da TERRA cheia de lamentos, mas da dor surda que despreza o corpo órfão de sentimento, trémulo numa formidável crise de pânico. Apesar de tudo, apesar do grito de parto que late nas letras, neste livro se descrevem dores veniais, porque como nos disse Wilde (em De Profundis] e nos confirmaram os sobreviventes do holocausto (leia-se por exemplo Celan ou Primo Levi), para as dores supremas não há palavras: "são mudas".
Jack Landes 15 Setembro de 2008



ADRENALINA



TALVEZ o medo seja um assobio no escuro, como turva é a testa do estrangeiro; porventura fantasmas fugazes que a mandrágora dispôs nos nossos olhos. Como eles, nós buscamos um fôlego que não habitam, e somente a adrenalina nos alerta desse corpo temí­vel, por desconhecido e amado; mais ainda se nele se penetra, e nele se vê a disciplina dos sóis e das luas.
Agora, mulher, descansa do cinzel que faz caretas na carne, que converte currículos em cinza, artigos e adjectivos. Lembra-te que o melhor analgésico é o esquecimento; que é ofício dos insec­tos aproveitar a miséria dos estrangeiros, o medo do colega que mantém a cadeia de emprego a qualquer preço, porque o futuro é um supermercado.
Lembra-te, quando acordares, tens que deixar que beije devagarin­ho a tua face, como fazem os insectos.


Ainda que a adrenalina possa funcionar como neurotransmissor, pelo seu papel no funcionamento do SNC é na realidade completamente banido pela acção da noradre-nalina, ou adrenérgico, termo geralmente mais usado. A potente produção de adrena lina desde a medula das glândulas supra-renais, como consequência da activação sim­pática, tem consequências generalizadas e iguais às da acção da noradrenalina liber tada pela neurónio pós-sináptico de uma via autónoma. A adrenalina segrega-se em situações de stress ou medo preparando-nos para a defesa ou para a fuga.
Agência do medo-S.Landero

quinta-feira, 14 de maio de 2009

segunda-feira, 11 de maio de 2009

A Arte de espreitar

A Arte de Espreitar
INTRODUÇÃO
Antes de ousar ou tentar qualquer coisa no Caminho do Guerreiro é preciso aprender a Arte de Espreitar. A Arte da Espreita é o enigma do coração, segundo os feiticeiros de tempos antigos, o desconcerto que os feiticeiros sentem ao se tornarem conscientes de duas coisas: primeiro, que o mundo parece para nós inalteravelmente objectivo e factual, por causa das peculiaridades de nossa consciência e percepção; segundo, que se diferentes peculiaridades de percepção entram em jogo, as próprias coisas do mundo que parecem objectivas e factuais mudam.
A Espreita teve origens muito humildes e acidentais. Partiu da observação feitas pelos novos videntes que, quando os guerreiros se comportam por algum tempo de modo fora do habitual, seus pontos de aglutinação se deslocam de maneira suave.
A feitiçaria é o ato de atingir o lugar do Conhecimento Silencioso . Não pode ser raciocinado; pode apenas ser experimentado.
Num esforço para se protegerem do avassalador efeito do Conhecimento Silencioso os feiticeiros desenvolveram a Arte de Espreitar. Na Arte de Espreitar, há uma técnica que os feiticeiros usam muito: Loucura Controlada. Segundo eles a Loucura Controlada é a única maneira que têm de lidar consigo mesmos, em seu estado de consciência e percepção expandidas, e com tudo e todos no mundo dos afazeres diários. A Loucura Controlada é uma arte e é preciso muita energia para exercê-la.

ESPREITANDO A SI MESMO
Ensinar a espreitar era uma das coisas mais difíceis que os feiticeiros faziam. E o mais importante é que os actos são ditados pela impecabilidade.
A Arte de Espreitar é aprender todos os truques do próprio disfarce. Devem ser aprendidos com tanta eficiência que ninguém perceba o seu disfarce. Espreitar é uma arte aplicável a tudo e há quatro passos para aprendê-la:
IMPLACABILIDADE, ESPERTEZA, PACIÊNCIA e DOÇURA.
IMPLACABILIDADE não deve ser RUDEZA. Seja IMPLACÁVEL mas ENCANTADOR.
ESPERTEZA não deve ser crueldade. Seja ESPERTO mas SIMPÁTICO.
PACIÊNCIA não deve ser NEGLIGÊNCIA. Seja PACIENTE mas ATIVO.
DOÇURA não deve ser TOLICE. Seja DOCE mas LETAL.
Espreitar é a arte de praticar o "controle sistemático do comportamento" de maneiras novas para propósitos específicos. É um comportamento secreto, furtivo, enganoso designado a provocar um choque. E Quando você espreita a si mesmo, você choca a si mesmo, usando seu próprio comportamento de um modo implacável e astucioso.
O comportamento humano normal no mundo da vida quotidiana é rotina. Qualquer comportamento que escape a rotina pode causar um efeito incomum em nosso ser total, e esse efeito é cumulativo.
A espreita envolve um tipo específico de comportamento diante das pessoas, um comportamento que poderia ser categorizado como sub-reptício, fraudulento, dissimulado.

A IDÉIA DA MORTE E A ESPREITA
A idéia da morte é a única coisa que pode dar coragem aos feiticeiros. Coragem de serem ATENCIOSOS sem serem VAIDOSOS, e de serem IMPLACÁVEIS sem serem CONVENCIDOS. Quando a consciência fica enredada pelo peso de suas aquisições perceptivas, o melhor remédio é usar a ideia da morte para causar um choque de espreita.
A vida é o processo pelo qual a morte nos desafia. Se nos movemos, é apenas quando sentimos a pressão da morte. A morte estabelece o ritmo de nossas acções e sentimentos e empurra-nos incansavelmente até que nos quebra e ganha o prémio, OU então nos elevamos acima de todas as possibilidades derrotamos a morte.
Um guerreiro está em guarda permanente contra a aspereza do comportamento humano. Um guerreiro é mágico e implacável, um dissidente com o gosto e as maneiras mais refinados, cuja tarefa mundana, é afiar mas com disfarce, suas bordas cortantes de modo que ninguém perceba sua implacabilidade.

APARÊNCIA, DISFARCES E MANOBRAS DOS ESPREITADORES
A arte dos espreitadores destinava-se a criar uma impressão ao apresentar as feições que escolhiam, feições que sabiam que os olhos do observador seriam obrigados a notar. Reforçando com arte certas expressões, os espreitadores foram capazes de criar, por parte do observador, uma convicção imutável quanto ao o que os seus olhos haviam percebido.
A aparência é a essência da Loucura Controlada, e os espreitadores criam uma aparência intentando-a, antes que, a produzindo com a ajuda de disfarces. Os disfarces criavam aparências artificiais e pareciam falsos aos olhos. Intentar aparências era exclusivamente um exercício para espreitadores.
Os guerreiros podem aprender a espreitar em sua consciência normal, embora seja aconselhável que o façam em consciência intensificada...não tanto por causa do valor da consciência intensificada, mas porque isto imbui a espreita de um mistério que ela na verdade não possui; espreitar é um mero comportamento diante das pessoas.
Os pequenos tiranos forçavam os videntes a usar os princípios da Espreita e, ao fazê-lo, ajudavam-nos a deslocar seus pontos de aglutinação.
"Uma das grandes manobras dos espreitadores é contrapor o mistério à estupidez que há em cada um de nós." As praticas da Espreita não são coisas para alguém se rejubilar; na verdade são completamente censuráveis.
Um dos propósitos de se espreitar é imprimir seus princípios a um nível tão profundo que o inventário humano seja ultrapassado, assim como a reação natural de recusar e julgar algo que possa ser ofensivo a razão.

OS SETE PRINCÍPIOS DA ESPREITA
1°- Os guerreiros escolhem seu campo de batalha, ele nunca entra na batalha sem saber o que o cerca.
2°- Descartar tudo o que for desnecessário. Ter somente o essencial.
3°- Um guerreiro tem de estar disposto e pronto a tomar sua última posição e decidir se entra ou não na batalha, pois toda batalha é uma batalha pela vida.
4°- Relaxar e não ter medo de nada.
5°- Quando confrontados com coisas que não conseguem lidar, os guerreiros se retraem por um instante e desenvolvem um espírito diferente de autoconfiança para reorganizar seus recursos.
6°- Os guerreiros condensam o tempo. Esperam Ter êxito, portanto não desperdiçam nem um minuto.
7°- Um espreitador nunca se põe a frente das coisas.

A RECAPITULAÇÃO E A ESPREITA
Sem fazer os exercícios de recapitulação para recuperar os filamentos deixados no mundo, não há possibilidade de manipular a Loucura Controlada, pois esses filamentos estranhos são a base da capacidade ilimitada de auto-importância de uma pessoa. Para exercitar a Loucura Controlada já que ela não visa enganar ou punir as pessoas ou se sentir superior a elas, tem-se de ser capaz de rir de si próprio. Florinda disse que um dos resultados de uma recapitulação detalhada é a graça de se ver face a face com a repetição monótona da auto-estima de alguém, que está no cerne de toda interacção humana.
A aplicação dos sete princípios redunda em três resultados:
Os espreitadores aprendem a nunca se levarem a sério. Aprendem a rir de si próprios. Se não se importam de parecer bobos podem enganar a qualquer um.
Aprendem a Ter uma paciência sem fim. Nunca estão com pressa. Nunca se desesperam.
Aprendem a desenvolver uma capacidade infinita de improvisação.

AFORISMOS DA LOUCURA CONTROLADA
Um guerreiro pode escolher permanecer totalmente impassível e nunca agir, e comportar-se como se ser impassível realmente lhe importasse; ele também estará certo assim porque isso também seria a sua Loucura Controlada.
Como nada é mais importante do qualquer outra coisa, um guerreiro escolhe qualquer ato e age como se lhe importasse. Sua Loucura Controlada o faz dizer que o que ele faz importa e o faz agir como se importasse, e contudo ele sabe que não é assim; de modo que, quando completa seus atos, ele se retira em paz e quer seus atos tenham sido bons ou maus, dado certo ou não, isso absolutamente não o preocupa mais.
Um guerreiro não tem honra, nem dignidade, nem família, nem nome, nem país; ele tem apenas a vida a ser vivida e, nessas circunstâncias, sua única ligação com seus semelhantes é sua Loucura Controlada.
Um guerreiro tem de saber antes de mais nada, que seus atos são inúteis e que, no entanto, ele tem de proceder como se não o soubesse. Esta é a Loucura Controlada de um xamã-guerreiro.
As coisas que as pessoas fazem não podem ser de jeito algum mais importantes do que o mundo. E assim um guerreiro trata o mundo como um mistério sem fim e o que as pessoas fazem como uma loucura sem fim.
Texto montado por Cláudia S. J. V. a partir das obras de Carlos Castañeda.